Não podia dizer que era falta do que dizer, afinal, a vida continuava agitada de maneira morna como sempre fora, mas era uma espécie de afasia. Não faltavam fatos, faltava língua para contá-los. Como se a língua mãe já não contivesse os conceitos corretos, ou como se a língua humana, rosada e inquieta, já estivesse tão gasta, tão rígida que não pudesse mais articular.
Foi assim que, sem maiores razões, largou faculdade trabalho cachorro apartamento CPF dívidas – a pagar e a receber – e refugio-se, a princípio por um ano, na casa de praia de uma parente meio surda (tia avó ou alguém igualmente distante).
Na cadência das ondas foi esquecendo do mundo. Os anos viraram: a proposta, três anos depois do um ano planejado, era investir o dinheiro ganhado nos bares em um quiosque próprio. A pele cada vez mais vermelha, o cabelo maltratado de sal, marcas no rosto de tanto sorrir.
Uma proposta boa apareceu e ele se perdeu no litoral.

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